segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A Maldição de Itararé


Parece nome de filme de terror, mas não é. Na verdade, eu gostaria que fosse filme, pois tal absurdo seria mais aceito e compreendido se fosse ficção. Itararé é um pequeno município do interior paulista e tem cerca de 48 mil habitantes. É uma cidade muito importante historicamente, pois fez parte da rota dos tropeiros e sediou a “batalha que não houve” em 1930. E por coincidência é a minha cidade natal.
O ano de 2012 ficou marcado em Itararé pela disputa do cargo de prefeito durante as eleições. Os mais cotados para assumir a função eram o até então atual prefeito tentando se reeleger e uma professora. Não vou entrar em detalhes sobre a disputa eleitoral, pois meu foco aqui não é a política, e sim a sociedade. Mas vale lembrar que o atual prefeito da cidade tinha sido cassado.
Depois dos escândalos envolvendo o prefeito de Itararé, parecia que finalmente os eleitores iriam às urnas com o intuito de mudar a situação da cidade, que ia de mal a pior. Mas apenas parecia, pois com 9.169 votos, o que representava 34,03% dos votos válidos, o prefeito cassado foi reeleito. Como forma de protesto, cidadãos não contentes com o resultado da eleição organizaram uma marcha apartidária pelas ruas da cidade. Todos de preto e com cartazes escrito “luto”, os manifestantes foram até a Câmara Municipal, onde um caixão simbólico foi usado para “enterrar a cidade”. Felizmente, o ano de 2013 chegou trazendo boas novas. Muito dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender? Não! Mas a notícia de que o ex-prefeito não poderia reassumir a função por causa de sua ficha suja. Assim sendo, o segundo candidato mais votado assumiu o cargo e Itararé ganhou uma prefeita.

Manifestante em luto por Itararé

Se fosse em alguma outra cidade do Brasil ou do mundo, esse caso estaria encerrado. Mas como em Itararé das Campinas tudo pode acontecer e o absurdo não tem limite, começaram a espalhar boatos de que uma maldição tinha sido jogada no município durante a noite macabra da manifestação. Isso porque aconteceram algumas tragédias na cidade no fim do ano passado e no início de janeiro, como acidentes de carro, estupro e mortes. Para os adeptos dessa teoria, o Diabo teria se aproveitado das palavras de ódio usadas na passeata para espalhar seu mal por Itararé. Para eles, dizer que a cidade morreu e simbolizar isso com um caixão foi um ato de maldição. Ao meu ver, a maldição caiu apenas sobre alguns desses simpatizantes que perderam cargos na prefeitura e a boa vida que levavam paparicando o ex-prefeito.
Como se não bastasse tamanha bizarrice, os autointitulados “cidadãos de bem” estão querendo organizar uma passeata de oração para quebrar a maldição lançada sobre a cidade. De volta a Idade Média, os protestantes vestidos de branco pretendem refazer o caminho da primeira manifestação para “devolver a cidade aos cuidados de Deus”. Espero que nessa passeata não queimem nenhum bruxo (a) em praça pública.


Entenda o processo que levou à cassação da candidatura do prefeito reeleito César Perúcio e suas eventuais implicaçõeshttp://murilocleto.blogspot.com.br/2012/10/a-vaca-gorda-e-o-aleijado.html




segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Jornalismo participativo: um dia no Badoo

Todo mundo que lê o meu blog (meu pai e mais uns dois amigos) sabe o quanto eu gosto de vir aqui e falar mal da internet. E já aviso que nesse texto não será diferente. Porém, desta vez, resolvi fazer algo novo. Você aí do outro lado deve estar se perguntando o que é Badoo. E você, que já conhece o Badoo, deve estar se perguntando o que é jornalismo participativo. Então vamos lá! Lembra-se daquela vez em que o Gugu Liberato se vestiu de mendigo para saber como eram tratadas as pessoas que moravam na rua? Então, jornalismo participativo não é isso, porque o Gugu não passa de um sensacionalista sem graça, mas a essência é mais ou menos essa. O Badoo, por outro lado, é uma rede social criada em 2006 que tem como função fazer você conhecer novas pessoas e fazer amizades. É como se fosse o Facebook ou o saudoso Orkut, mas com uma diferença: lá, a paquera rola solta.
Convencida por um amigo, criei minha conta no Badoo. Eu não sabia que era uma rede social voltada para encontros, mas descobri assim que li um “oi linda, quer tcr?” quando fiz meu login. Não podia imaginar que as pessoas ainda usam “tcr” em pleno ano 2013. Mas isso é outra história, vamos ao que interessa. Após três horas do meu início no Badoo, 180 pessoas visitaram meu perfil. Como eu coloquei “Curitiba” no item cidade residencial, 90% dessas visitas foram de pessoas da capital paranaense. O que me deu certo medo, pois o site lhe sugere que coloque o endereço de onde está para ver se tem alguém on line por perto.

Meu perfil no Badoo (sim, eu inventei um nome)

Depois de colocar coisas como cidade, fotos e idade, o usuário da rede social pode preencher seu perfil de acordo com seus interesses. Assim, o Badoo indica na sua página inicial quais pessoas tem os mesmo interesses que o seu. Por exemplo, no meu perfil coloquei “Rock”, “The Walking Dead” e “Cinema”. Com esses interesses em comum, fica mais fácil decidir se quer ou não começar uma conversa com algum pretendente. Definidas estas coisas, seu perfil no site está pronto e começam os xavecos.

(X) Jamais

Não posso falar por parte das mulheres que usam essa rede social, mas percebi que a maioria dos homens são uns completos “sem noção”. É claro esses seres estão por toda internet, como no Facebook ou no Twitter, mas por ser o Badoo um site de paquera, o pessoal acaba exagerando nas bizarrices achando que está seduzindo. Vale tudo para conquistar as garotas, como por exemplo, homens dizendo que tem 30 anos, mas com cara de 55, e meninos de 19 mentindo que tem 26. O engraçado é que algumas pessoas do site estão realmente interessadas em relacionamentos duradouros e a procura de compromisso, por isso levam a sério os interesses em comum e sempre dão um jeito de elogiar ou chamar a atenção.

No way, baby!

Oi, estou triste ao ver o "soltero" no seu nickname

Nunca chame uma mulher de querida. Ao menos que você seja gay ou ela seja sua esposa.

Explorando mais o site, reparei que além de você poder conversar com os pretendentes em bate papos reservados, também há um jogo onde aparecem fotos de vários usuários com a pergunta "Quer conhecer?" e você tem três escolhas a fazer: sim, talvez e não. É o jogo dos "encontros". Me senti um pouco mal em clicar no "não" no começo, pois achava ridículo julgar a pessoa apenas pela aparência. Mas depois de cinco minutos nesse jogo eu estava fazendo um festival de nãos e até tirando sarro dos menos providos de beleza.


Acho que não, né?

Se você curtia navegar na internet em meados de 2002 e sente saudades daquelas conversas chatas do Bate Papo Uol de madrugada, o Badoo é o lugar perfeito pra você.  Após passar um dia no site descobrindo suas funções, levando cantadas e conversando com as pessoas, a minha impressão é que o Badoo não passa de um catálogo de gente desesperada para conseguir namorado (a), relacionamento casual, ou ficante (ainda usam essa palavra?). Esse lance de amizade é tudo papo furado, o que o pessoal quer mesmo é romance.
Será que as pessoas se cansaram de procurar o amor numa fila de cinema, na esquina ou numa mesa de bar, como disse o Frejat? Talvez! Talvez porque na vida real as chances de encontrar alguém com os mesmos interesses que os nossos seja menor. Ou talvez porque na vida virtual a timidez fica de lado e podemos nos comunicar com mais facilidade. Não sei, só sei que dei muita risada nesse Badoo.

Vai encarar? www.badoo.com/pt/