sexta-feira, 1 de março de 2013

Traumas da Infância na Televisão Brasileira

Após escrever uma análise psicológica (sem fundamento algum) sobre as ilusões que os filmes da Sessão da Tarde nos causaram durante a infância, tive a ideia de falar sobre alguns traumas que a própria televisão brasileira nos causou enquanto éramos pequenos. Se vocês, assim como eu, cresceram comendo sucrilhos em frente à televisão, provavelmente compartilham de alguns momentos televisivos de medo intenso.

Preguiça de fazer montagem decente

Fantástico e o ET de Varginha

Em janeiro de 1996 a imprensa brasileira voltou os olhos para a cidade de Varginha, em Minas Gerais, após relatos de moradores sobre a aparição de objetos voadores não identificados no céu. Algumas testemunhas também afirmaram ter visto uma criatura marrom, de porte semelhante ao do ser humano, com chifres e olhos vermelhos pela região. Todo santo domingo o programa Fantástico trazia novas revelações e reviravoltas sobre o caso do extraterrestre mais famoso do Brasil. Sensacionalismo? Imagina!
Hoje, uma série de reportagens como essa sobre o suposto ET não geraria em nós nada além de curiosidade ou até mesmo riso (como no caso do ET Bilú). Porém, quando éramos crianças, apenas a chamada dessas matérias nos comerciais da Rede Globo nos fazia ficar noites sem dormir. Acredito que mais pessoas além de mim teve medo (ainda tenho) de ET’s e discos voadores por um bom tempo graças ao Fantástico.


Estátua do ET de Varginha que mais parece um pé verde

Gugu e o Chupa Cabra

Ah, esse Gugu Liberato não é fácil mesmo, hein? Podemos citar inúmeras atrações bizarras que ele apresentou enquanto comandava o palco do Domingo Legal. Como se esquecer do caso da menina que chorava caco de vidro? E a suposta aparição de uma santa em uma janela velha? Sem contar, é claro, a entrevista ao vivo com falsos membros do PCC. Mas hoje o foco aqui é na criatura que virou mania nacional em meados de 1997: o Chupa Cabra.
O bicho, que era acusado de devorar animais das fazendas do interior paulista, nunca foi dado como verdadeiro, mas Gugu, com seu caráter nem um pouco duvidoso, afirmava que iria levar o corpo de um Chupa Cabra morto ao seu programa. É claro que a situação foi ridícula e vergonhosa, mas não é nada saudável ver e ouvir esse tipo de coisa num domingo a tarde aos 11 anos de idade.
Depois de enrolar o público por uma semana para mostrar o corpo da criatura, sr. Augusto Liberato foi desmascarado por um biólogo que viu o cadáver e afirmou a fraude. Abaixo, uma parte do programa que foi ao ar em 1997. Vale a pena ver o programa todo que está no youtube, um show de vergonha alheia.

                            
Crimes no Linha Direta

Noites de quinta-feira de muito pavor ao assistir as dramatizações dos crimes mais famosos e terríveis do Brasil no Linha Direta da Rede Globo. Tinha gente que saia correndo da sala só de ler a palavra “simulação” no canto inferior da tela. O que mais assustava as crianças eram os nomes dos criminosos, como “Chico Picadinho”, “O Bandido da Luz Vermelha”, “Febrônio, o Filho da Luz”, entre outros. Além dos crimes verídicos, o programa apresentou alguns episódios sobre casos sobrenaturais no especial Linha Direta Mistério, já nos anos 2000. Ainda me lembro que fiquei impressionada com os casos "Enigma do Edifício Joelma" e "Operação Prato" (mais ETs).
Eu sei que não posso culpar o programa por assustar as criancinhas, pois ele era exibido tarde da noite, mas sempre tinha uns pirralhos curiosos que ficavam até tarde na sala para espiar o Linha Direta.

"Um crime que chocou todo o país"

Aqui Agora e Gil Gomes

No início dos anos 90, o jornal Aqui Agora do SBT aterrorizava os fins de tarde da criançada com as reportagens policiais que exibia. Assim como o Linha Direta, o jornal focava em crimes escandalosos e assassinatos que chocavam o país. Além de cobrir essas notícias assustadoras, um de seus jornalistas, o repórter Gil Gomes, era tão medonho quanto esses fatos. Seu jeito de falar e seus gestos conseguiam deixar as matérias mais bizarras do que já eram.
Por ter um forte apelo popular, o Aqui Agora fazia muito sucesso. O jornal cobriu vários casos importantes, como a morte do Ayrton Senna em 1994 e a morte dos Mamonas Assassinas em 1996. A ousadia do programa chegou a render um processo ao SBT por exibir imagens do suicídio de uma garota chamada Daniele Alves, que se jogou do alto de um prédio em São Paulo em 1993. Jornalzinho sinistro, hein?


Fofão, Xuxa e Palhaços da TV

Parece clichê falar sobre esses ícones da infância brasileira, mas o fato é que as lendas urbanas envolvendo esses personagens traumatizaram uma geração de meninos e meninas. A Xuxa tinha seu programa na Globo, e não bastassem os boatos envolvendo a rainha dos baixinhos com pactos satanistas, sua boneca também foi alvo de comentários. Diziam que a boneca ganhava vida durante a noite e arranhava suas donas.
O Fofão, um ser alienígena muito estranho, teve também um programa na Globo, e logo depois foi para a emissora Bandeirantes. Assim como a Xuxa, Fofão teve um lançamento em forma de boneco que logo foi acusado de ser um brinquedo do demônio. A lenda urbana dizia que dentro da barriga de pano do boneco havia um punhal afiado.
Palhaços também tiveram seus programas na televisão. Você se lembra do Bozo? E da Vovó Mafalda? Se até adultos morrem de medo de palhaços, imaginem as crianças! E para completar, havia uma lenda urbana sobre uma Kombi cheia de palhaços que raptavam as crianças nas portas das escolas.

Vovó Mafalda e Bozo: palhaços do terror

E esses foram alguns dos traumas causados pela televisão durante a minha infância. Apesar do medo, esses traumas estão superados e hoje são motivo de piada. Após terminar de escrever esse texto, fiquei pensando em quais serão os traumas de infância dos futuros adultos. Imagino que seja algo do tipo "tinha medo daquele vídeo do youtube" ou "aquele meme me assustava". E vocês? Quais são seus traumas da infância?

Revisão: Rafaela Gorski