quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ilusões da Infância na Sessão da Tarde (Parte 2)


Atendendo a pedidos (três), estou escrevendo a parte dois do post "Ilusões da Infância na Sessão da Tarde". Fico feliz que tenham gostado do meu texto, isso que dizer que eu não estou sozinha com esses pensamentos nostálgicos. Algumas pessoas reclamaram que muitos filmes clássicos da Sessão da Tarde ficaram de fora desta análise de ilusões, e me deram sugestões para esse novo post. Outras pessoas comentaram que eu fiz uma confusão no texto anterior, dizendo que alguns filmes da Globo na verdade eram do SBT. Eu lembro muito bem onde vi cada um desses filmes. O que acontece é que, durante os anos, essas obras acabaram sendo exibidas por mais de um canal.
É interessante perceber que quase todos esses filmes teens que fizeram sucesso na Sessão da Tarde, ou Cinema em Casa, foram produzidos a partir da década de 80. Nesse período, o jovem passou a ser visto como um consumidor em potencial de cinema, música, moda e tendências tecnológicas. A cultura pop se globalizava e o adolescente virava um novo nicho de mercado. Nós, jovens adultos, temos muito o que agradecer, pois tínhamos a opção de escolher assistir esses filmes ao invés de Maria do Bairro.

Primeiro logo da Sessão da Tarde nos anos 70

As Patricinhas de Beverly Hills (1995)
Esse filme fez a cabeça de muitas meninas dos anos 90. Todas elas queriam ter um programa de computador que fizesse combinações de roupas igual ao da Cher (Alicia Silverstone). Todas elas queriam ser as populares da escola e ter dezenas de conjuntinhos saia/blusa coloridos. Além disso, o filme criou o mito de que toda patricinha tinha que ser loira. É claro que na história Cher era uma patricinha gente boa que gostava de fazer o bem para todos, mas nós, meninas dos anos 90, sabemos que as patricinhas da vida real não tinham nada de simpáticas. Esse clássico da Sessão da Tarde apresenta uma escola onde todos são legais e se divertem juntos dançando com os amigos♫ nas festas. Tudo mentira. Não é à toa que uma das atrizes desse filme cometeu suicídio anos depois.

Não sinto saudades da moda dos anos 90

Karatê Kid (1984)
Um garoto pode ter dezenas de garotas por perto para se envolver, mas ele vai se relacionar justamente com a ex-namorada do campeão de karatê da escola. Vítima de algumas surras do valentão karateca, nosso guerreiro Daniel Larusso é defendido em um desses conflitos por um velhinho lutador muito simpático, o Sr. Miyagi. Percebendo a necessidade que o garoto tem em se defender, Sr. Miyagi passa a ensiná-lo a lutar karatê com métodos um tanto quanto incomuns. A ilusão presente neste clássico está em acreditar que com humildade, perseverança e disciplina você pode derrotar uma gangue de valentões. É aquele velho blá blá blá de pessoas movidas pelo esporte em busca de superação e aceitação. Triste.


Daniel Larusso é aquele tipo de garoto que as meninas querem namorar

Uma Linda Mulher (1990)
Eis aqui uma das inúmeras versões modernas do conto da Cinderela: homem rico que se apaixona por mulher pobre. É claro que para dar um toque contemporâneo no conto de fadas o homem é um empresário super importante e a mulher é uma prostituta de calçada. Quando criança, a gente não entende muito bem esse filme, mas a partir de uns 13, 14 anos já dá pra ter ideia do que se trata. A ilusão é de que, se até uma prostituta falida conquistou um cara lindo e milionário, qualquer uma pode conquistar. A diferença é que ela era a Julia Roberts, querida! Até hoje vejo mulheres desfilando na "balada" quando começa a tocar Pretty Woman, mas o que elas não se lembram é que a pretty woman em questão era uma mulher da vida.


O conto da Cinderela moderna

O Pestinha (1990)
Quem nunca quis ir a uma festa fantasiado de Diabo? Quem nunca quis jogar os presentes da colega chata na piscina? E o melhor, quem nunca quis colocar um brinquedo do parque de diversões em rotatividade máxima para ver os amigos vomitarem? Eu! Você! Todos nós! Esses são apenas alguns exemplos da má influência que O Pestinha pode causar nas crianças. Pode-se classificar o menino Junior na categoria Kevin MCcallister de traquinagem, pois jamais uma criança (por mais esperta que seja) vai conseguir aprontar todas sem ser punida, castigada ou morta. Junior é maneiro e sempre se dá bem no final, isso cria a ilusão de que ser peste é legal.

Junior era meu ídolo

A Volta dos Mortos-Vivos (1985)
Sim, eu sei, esse filme passava no SBT. E pasmem, durante os anos 90 a censura da programação não era tão rígida, deixando clássicos do terror como esse serem exibidos durante as tardes no saudoso Cinema em Casa. Existia até o Cine Trash, sessão de filmes de terror apresentada pelo Zé do Caixão. Era muito sangue jorrando na tela da Band às três da tarde. Mas isso é assunto para outro post. Voltando aos mortos-vivos, é claro que se você ver o filme hoje em dia apenas dará algumas risadas. Mas esses zumbis toscos caindo aos pedaços podem ser muito assustadores quando se tem 10 anos. Este clássico do "terrir" não criou ilusões, e sim traumas nas crianças que passavam as tardes largadas na casa da vó vendo TV.

Coisa linda

Edward Mãos de Tesoura (1990)
Este filme dirigido por Tim Burton marcou a carreira do conselheiro amoroso de Facebook, e  também ator nas horas vagas, Johnny Depp. O clássico conta a história de Edward, um rapaz solitário que tem tesouras no lugar das mãos e que mora em um castelo abandonado. Por não conhecer o mundo além de seus portões, Edward encontra muita dificuldade ao se relacionar com as pessoas de sua cidade. Repleto de poesia, esse filme de Tim Burton cria a fantasia de que um cara gótico cheio de tesouras nas mãos pode conquistar o amor de uma garota. Mas, ao mesmo tempo, é um dos poucos filmes da Sessão da Tarde que passa uma mensagem verdadeira no final. Ele mostra que mesmo você sendo meigo como o Edward, as pessoas não vão aceitar suas diferenças.


Ops, acho que caiu um cisco no meu olho...

Um Príncipe em Nova York (1988)
Se sua infância não teve a participação de Eddie Murphy, não foi uma infância feliz. Eu poderia citar vários filmes desse ator, como, por exemplo, O Rapto do Menino Dourado, Um Tira da Pesada e até O Professor Aloprado. Mas nenhum deles foi tão exibido na Sessão da Tarde como Um Príncipe em Nova York. No filme, Eddie dá vida a Akeem, um príncipe africano que se rebela contra um casamento arranjado por seu pai e decide ir até Nova York a procura de um amor. Ele se passa por um estudante pobre e enfrenta muitos "perrengues" para encontrar uma moça que o ame pelo que ele é, e não pelo que ele tem. Bom, não preciso nem comentar que jamais um cara milionário fingiria-se de pobre e viveria em um apartamento minúsculo e sujo, sendo que ele pode ter tudo do bom e do melhor, não é?

E não é que no fim ele encontra o amor verdadeiro?

E este foi mais um post saudosista em homenagem aos filmes que marcaram nossa infância. Pra variar, eu nunca sei como terminar de escrever um texto, por isso, fico tentando dar um esse toque poético e sentimental de "nunca deixe a criança que há em você morrer" e blá blá blá. Na verdade, isso é mais uma dica para que você não se preocupe tanto com as coisas chatas da vida de adulto e de mais espaço para diversão e confusão. Até a próxima, amiguinhos!

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